sábado, 18 de setembro de 2010

A dona do mar



"Veio de manhã molhar
os pés na primeira onda.
Abriu os braços devagar,
e se entregou ao vento..."


Um simples toque pode te levar a delírios imaginários.A água era gelada, mas aquele toque imediato a causou arrepios. Seu corpo estava quente, muito quente. Ela ofegava. Correu o quanto pôde para encontrá-lo.Encontrá-lo novamente. Precisava dele. Precisava do seu cheiro. Cheiro salgado, que a fazia se imaginar no meio de corais, nadando,nadando em suas águas eternamente. Precisava de sua cor. Ora transparente, ora negra. Transparência que se tornava azul, verde, negro. Ela precisava de sua voz. Um suave canto, música. Música que chegava aos seus ouvidos, um som macio, que a fazia sentir-se envolvida, abraçada. Abraçada pela imensidão.

Ele a esperava chegar. Dia e noite. Tempo que não significava nada diante do seu longo tempo. Assim que ela chegava, quente, ele a tocava. Ele frio, diante de todo o calor daquele pequeno corpo. Se beijavam. Toque transformado em êxtase. Se completavam. Ele era um todo, desejando se encontrar em um. Ela era um, se realizando no todo. Deitada, Ana aproveitava os quatro elementos de tudo diante da imensidão azul. Estavam apaixonados. "Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa? Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar".

Apaixonado, ele entregava as mais belas conchas, e os tesouros mais valiosos que o tempo ainda os prendiam. Tudo o que tinha. Tudo o que bilhões de anos guardou, e agora pertencia a ela. Uma menina. E ela o retribuía com todo o desejo de ser banhada por ele. Eram um casal. Ele, seu eterno amante. Ela, a dona do mar.

"Ana e o mar,
mar e ana.
Histórias que nos contam na cama
antes da gente dormir..."

Minha homenagem, ao Teatro Mágico.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Equilibrium

Nada de cores. Tudo é cinza. Vermelho, paixão. Verde, tranquilidade. Roxo, transcendência. Proibidos. Nada de quadros. Tudo é cinza. Monalisa, queimado. Monetti, queimado. Nada de música. Beethoven, já não se esculta mais. Vinil, queimado. CD queimado. Tudo o que torna o homem, homem, destruído.

Tudo pela causa. E qual é a causa? Não sentir. Alexandre O grande, matou milhares. Hitler matou milhares. Calígula, matou a própria irmã, grávida de seu próprio filho. E por quê? Porque sentiam. Tinham raiva, ganância, medo, alegria, dor. Os sentimentos levam o homem a cometer coisas perdoáveis e imperdoáveis., pelo simples desejo de se satisfazerem. Desejo.Para evitar o pior, porque não tornar o homem uma máquina? Um ser incapaz de sentir o menor afeto pelo outro? Medo. Assim aconteceu.

Há um pontinho vermelho. Uma menina.Está chorando escondida debaixo da mesa da cozinha. Está segurando uma fita vermelha. A simples cor, e maciez da fita de seda a faz chorar. Emoção. Era de sua mãe. Ela sumiu. Disseram que foi pela causa. Ela era uma rebelde. A menina não sabia bem o que era isso. Mas devia ser uma coisa muito ruim. Batem na porta. A porta cai. Homens de cinza armados entram. Entram, pela causa. Ela não verá mais o sol nascer. Sol cinza.