quarta-feira, 20 de junho de 2012

Como num sopro


Não terminou de ler os livros que comprou. A pilha com seus marcadores ainda estão jogados na mesa empoeirada. A xícara de café outrora quente, agora mancha uma escrivaninha cheia de papéis amaçados. O espelho ainda guarda fotos de amores, amigos e ídolos. O celular ainda vibra para informar a chegada de uma nova mensagem. Mas ela jamais verá tudo isso novamente. Como tudo na vida passa de forma rápida, essas coisas passaram e provavelmente ficaram gravadas em sua pupilas. Inerte, com olhos ainda estatelados, ela ainda segura a pistola calibre 32. O sangue ainda escorre pelos seus cabelos sujando todo o cobertor de sua cama recém arrumada.

Mais uma vida se vai. Assim, tão rápido. Familiares, amigos, vizinhos e conhecidos se perguntarão o porquê. Ela nunca demonstrou uma única insatisfação. Sorria a todo tendo, cantava, dançava e adorava viajar. Em seus 20 anos de vida conhecera 10 países e em seus planos estava a clássica Grécia para ainda conhecer. Teve muitos namorados. Não amou a maioria, e teve o coração partido exatamente por dois que acreditou ter amado. Isso se possível amar dois homens com a mesma intensidade. Vivia de frases ditas por Marilyn Monroe, Clarice Lispector, Charles Chaplin e Bukowski. Não tinha suas próprias frases. Talvez por acreditar que era mortal demais. Apesar de seu signo, não se importava muito com dinheiro. Tendo para viajar, viveria a pão, água e sexo. Não se importava. 

E assim, como em um piscar de olhos todos esses sonhos, desejos, arrependimentos e dores foram deixados para trás mais cedo do que deveriam. E o porquê ainda circulará por entre aqueles que achavam que conheciam Cibele. Na verdade ninguém conheceu Cibele. Ela sempre soube disso.
Ela sempre soube. 

What's new Buenos Aires? 1º Dia

Diário de Bordo - 07/06/2012


- Qual o destino?
- Buenos Aires.



Tínhamos toda a certeza do mundo: queríamos ter a nossa primeira viagem internacional para a bela e tão comentada pelos brasileiros, Buenos Aires. Mas lá no fundo eu só sabia de cinco coisas dessa cidade: primeira, que eles amam Evita Perón. Segunda, que eles comem carne muito, mas muito mal passada. Terceira, idolatram o Maradona. Quarta, é a cidade do Tango. E quinta, é um pedaço da Europa na América do Sul. Para ser sincera, meu grande sonho foi fazer aquelas viagens com mochila nas costas por toda a Europa. Mas por motivos financeiros e tempo, preferi ter um gostinho desse lugar de forma mais barata e rápida. Não esperava tanto.

 Comprei a minha passagem acreditando que iria para um lugar, legal. Mas assim que a vi, lá de cima, da janela do avião, percebi que eu, reles mortal estava completamente enganada. A começar pelo frio que eu senti assim que sai pela porta do avião. Era como se fosse um "Acorde garota, a aventura  é para agora". Temperatura: 4ºC. E assim que pisei em território porteño ( é assim que se chamam aqueles que nascem em Buenos Aires) eu percebi que até então minha vida é que tinha sido legal. Aquele lugar era o gostinho do maravilhoso.

Entrei no ônibus que nos levaria para o hotel. Eram quase meia noite. Primeira coisa que notei? Ao lado do motorista denominado "Chocolate" havia uma cestinha com um dólar colado nela. Apresento-vos o que eles chamam de propina. Para nós brasileiros isso seria crime não? Mas para eles esse nome é dado ao que conhecemos como gorjeta. E sim, lá pedem propina (rs) até para você utilizar o banheiro público. Somos obrigados a dar o dinheiro? Não. Somos obrigados a escutar xingamentos consequentemente? Sim. Mas como diria um provérbio antigo, o mundo é dos espertos. Eles por se apossarem de lugar público e pedir dinheiro para usarmos. E eu, por fingir que não entendia o que falavam e não pagava.


Chegamos ao hotel. Momentos de tensão. Conversar com o recepcionista. Pânico. Nos aproximamos e escutamos: Boa Noite. Alívio. Sim, eles arranhavam o português, assim como a maioria dos porteños que trabalham na área de turismo, pois claro, os brasileiros alimentam o bolso argentino. Aliviadas, subimos para o quarto. Cada uma escolheu a sua cama: A Ina, com a do lado do aquecedor. Por ser a mais magra e raquítica era o melhor a se fazer. Eu, fiquei com a do lado do banheiro. Quem me conhece, entenderá. E a Thamy com a do meio, assim poderia comandar com mãos de ferro as duas por ela denominadas de "lerdas".

Sentamos cada uma em suas respectivas camas. Estava frio, muito frio. O aquecedor acabara de ser ligado a 25º C, mas ainda não produzia efeito algum. Nos olhamos. Parecia não ser verdade. Sorrimos e enfim pudemos dizer "Estamos em Buenos Aires". Após passarmos o dia de aeroporto em aeroporto, e ter esperado oito horas no aeroporto de Guarulhos mortas de cansaço, simplesmente, dormimos.

 Às sete da manhã do dia seguinte acordamos prontas para cantar como Madonna interpretando Evita Perón no musical Evita, " What's new, Buenos Aires? Sou recém-chegada e louca por você...E você será por mim também".

To be continued...