quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O segurar das mãos

Foi como um daqueles momentos em que você está apenas olhando, mas algo te força a observar. Em meio a buzinas, trânsito, correria, dinheiro, tempo, dinheiro, lá estavam eles, como se nada disso existisse. Como se eles fossem mais fortes do que qualquer chatice desse mundo louco. Talvez um dia fizeram parte deste mundo, mas agora o que importa? Já vivemos tudo o que tínhamos para viver, vamos agora nos amar. E foi isso que me fez observar. Observá-los.
São Paulo. Parque da Independência. Um senhor e uma senhora, de mãos dadas, caminhando lentamente, olhando aquele parque cheio de história e possivelmente relembrando um passado que não volta mais. Mas estavam felizes. Aquela felicidade nostálgica. Uma alegria que passava de um para o outro, pelas mãos. Para mim, aquilo era a manifestação mais simples de amar alguém pela vida toda. Seguravam as mãos por costume? Tradição? Rotina? Mas o amor também é isso. É acordar todo dia e colocar as sapatilhas dela em seus pés enquanto ela levanta. É fazer todo dia aquele café para ele após o almoço. É lembrar de comprar o perfume dela, aquele de sempre. É deixa-lo ler o jornal em paz. Ele não gosta que incomode. É segurar as mãos dela quando estão no Grande Mundo. É segurar as mãos dele quando estão no Grande Mundo. Se protegendo. Se apoiando. Estando perto. Ainda amando.
Percebi que existe amor em São Paulo. Ainda.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Homens, a TPM delas pode ser o seu fim

As mulheres não são complicadas porque querem, elas foram amaldiçoadas. Ou algo que passe perto disso. A bendita Eva decidiu oferecer a bendita maçã dela para o Adão e foi nisso que deu. E como se já não bastasse as mais sortudas ganharam de herança vinda do Édem a digníssima Tensão Pré Menstrual, ou mais conhecida como TPM. Querido, ela pode ser pior que a sua sogra. Bem pior. Sua sogra pode ainda bater as botas mais cedo ou mais cedo, já a TPM só na menopausa e isso é bem tarde.
 
Quando sua amada estiver na TPM meu caro, nada, mas exatamente NADA que você fizer vai estar bom. Ela vai querer toda a sua atenção e tempo para ela num dia e no outro nem vai querer olhar na sua cara sob pena de extermínio. Ela vai ficar brava com você porque você não disse "Bom dia" a ela com o mesmo número de letras e exclamações que você costumava dizer (ou não). Você vai perguntar, "Aconteceu alguma coisa?" e ela vai dizer "Nada. Nada não".  AHAAA!!! Se ela falar isso, fodeu. Porque aconteceu sim e ela quer que você adivinhe. E saca só, está comprovado que na maioria dos términos de namoro em que elas terminaram, sim, elas estavam de TPM. Já era pra você. Vai entender...Se agarra na eficiência de tentar ser o príncipe encantado, ou troca de time. Os homens dão menos trabalho. Não foram amaldiçoados.
Sorte a deles.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Milagre de Natal


 
 
 
“Fé é acreditar no que você não vê; a recompensa da fé é ver o que você acredita.”

 (Santo Agostinho)

Eu poderia começar essa história com um belo “Era uma vez”, pois ela pode ser dessas histórias que contamos para os nossos filhos, e eles contarão para os seus filhos, até a história passar a fazer parte do mundo dos contos de fadas. Mas prefiro não começar assim. Pois essa história que me foi contada, foi contada por olhos que viram e podem confirmar a sua veracidade. E não só um par de olhos, mas vários. Olhos que se emocionaram, e deixaram com que as lágrimas que escorreram por eles, confirmassem que ali havia fé. Sim, eles acreditaram no que não pode ser visto e nem comprovado. E assim eu passo essa história. Se não tiver fé no que vou contar, tenha fé nessas pessoas.

Era véspera de Natal. Momento, para cristãos do mundo todo, de celebrar o amor ao próximo e retribuir esse amor presenteando àqueles que aos nossos olhos são dignos de tal agradecimento. Como em todo ano, a Paróquia Nossa Senhora das Graças presentearia as crianças que ali frequentam com presentes simples, mas oferecidos de coração. Porém nesse ano de 2000, algo inusitado aconteceu. Era para apenas as pessoas do bairro saberem sobre o fato e a informação espalhou-se além desse limite. É aqui que entra o Magué. Mas para isso voltaremos um pouquinho na história. Antes do dia da entrega dos presentes.

Magué e Zé Buchinha eram responsáveis por ir à capital, Goiânia, buscar as bolas, carrinhos e bonecas. Entretanto, dessa vez se meteram em encrenca. Zé Buchinha, que ia dirigindo apressado para chegar o quanto antes ao destino, acabou fazendo uma ultrapassagem proibida. Que azar. A polícia viu tudo. Foram parados, tentaram explicar que era para um bem maior, porém tudo em vão. Injustificável. Multa na certa. Chateados e de volta ao trajeto Magué disse:

- Essa multa nunca vai chegar para você, pois estamos fazendo algo para Nossa Senhora das Graças.

Pimba! A multa até hoje não chegou. Nunca foi vista. Alguns chamariam isso de sorte, mas para eles não foi só isso não. Uma mãozinha conduziu tudo isso.

O dia da entrega dos presentes chegou e o grupo responsável conseguiu encher seis sacos de presentes. Em particular, Magué decidiu guardar uma bola para si como recordação. Sozinho, sem ninguém o observando, pegou uma bola, entrou em um quartinho da paróquia e guardou em um armário na última prateleira. Depois foi para a missa. Mais uma vez a paróquia poderia fazer a alegria das crianças do bairro. Mas espere um momento. Como eu disse anteriormente, a informação vazou. Não havia ali a média de crianças que sempre havia nos anos anteriores. Havia muito mais. Logo, logo, após a missa, seria o momento de entregar os presentes que estavam dentro daqueles seis sacos e Magué sabia que muitas crianças iam ficar sem. Ele logo se entristeceu. Doía no peito ter que ver olhinhos tão ansiosos terem a sua alegria indo embora.

Ele só poderia fazer uma coisa. Era falar com Ela. Falar com a sua Mãe Intercessora e pedir que Ela o ajudasse a lidar com aquela situação e que soubesse agir com as crianças que não iriam receber os presentes. O momento chegou e lá se formou aquela enorme fila de crianças sorridentes. Zé Buchinha vendo a preocupação do amigo disse:

- Calma. Vamos começar a entregar para as crianças menores. As que sobrarem, vamos fazer uma lista com o nome delas e nos comprometer. Voltaremos a Goiânia amanhã e compraremos mais presentes.

E foi pensando assim que o grupo responsável por aquela atividade começou a entregar os presentes. Mas algo estranho aconteceu. Não havia ali os seis sacos de brinquedos. Havia sete sacos. Todas as crianças ganharam os presentes. Todas. E Magué e Zé Buchinha que foram os responsáveis pela compra dos brinquedos ficaram assustados. Como foi aparecer mais um saco? Porém eles sabiam quem foi responsável por isso. E estavam gratos.

Foi então que depois que já tinham acabado de entregar todos aqueles presentes e estavam felizes por terem conseguido fazer a alegria de tantas crianças, que mais uma chegou. Era um menino pequeno e chegou na garupa de uma gareli velha dirigida por seu pai. Ele chorava muito e dizia incessantemente: “Pai, eu quero aquela bola”. O pai não estava entendendo o que acontecia, mas deixou que seu filho falasse com Magué:

- Eu quero aquela bola. Uma Moça Bonita me disse para vir aqui e pegar aquela bola com você. Ela disse que a bola é...

E assim o menino descreveu as características da bola e disse o local onde ela estava. Sim, era na prateleira mais alta daquele armário que Magué havia guardado a sua lembrança e que só ele sabia onde estava. Foi Ela mais uma vez. Após entregar a bola àquele menino e ver as lágrimas serem substituídas pelo sorriso, Magué contou o fato ocorrido para os seus amigos que ainda estavam na igreja e todos muito emocionados agradeceram. Agradeceram àquela Mulher que escolheu ajudá-los nesse momento de graça. Nunca esqueceram esse fato e até hoje o contam com lágrimas nos olhos.
Foi o próprio Magué quem me contou. No final, as lágrimas e o choro disputavam espaço com as suas palavras. Foi preciso um copo d’água para acalmar aquele coração que anos depois do ocorrido, possui a mesma sensação daquele dia do menino e da Moça Bonita. Sensação de dever cumprido e agradecimento. E assim, repasso essa história. Você tem a escolha de acreditar ou não. Mas acredite nessas pessoas e em seu direito de acreditarem no inacreditável, pois histórias como essa não nos são contadas todos os dias.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Dependência


Baby, você se esqueceu de tomar os seus remédios? Pense mais um pouco e tente se lembrar... hoje de manhã você não teve o meu "Bom dia" dito ao seu ouvido quando você ainda acordava... não tomou no café da manhã mais uma rodada de sexo só pra ter uma última despedida antes de ir para o trabalho...não almoçou meus beijos de fome de você...não lanchou minhas palavras de carinho ditas ao telefone só pra te lembrar do que eu realmente queria... e não jantou minha mordidas ao seu pescoço, orgasmos e arranhões deixando marcas para te avisar dos seus remédios no dia seguinte.
Baby, tente se lembrar...sua vida é bem melhor com eles. Foda-se sua sanidade. Foda-se sua liberdade. Foda-se tudo aquilo que te mantém longe de mim.
Saiba me usar. Saiba me tomar. Saiba depender de mim.
Beba.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Uma dose de sabedoria

E lá estava ele às sete e meia da manhã com sua pastinha na mão esperando o ônibus chegar. Era um senhor aparentando estar quase com seus sessenta anos, denunciado pelos cabelos grisalhos e rugas que a vida insistiu em deixar. Tinha algo diferente no olhar. Seus olhos brilhavam e ele não aparentava cansaço. Não. Ombros eretos, um leve sorriso no rosto e disposição aparente. Mas não foi isso que me chamou  a atenção naquele senhor. Foram suas palavras. A dose diária de sabedoria que eu estava precisando. A dose que não faz mal a ninguém.

Minha colega chegou para pegar o ônibus conosco. Primeiro cumprimentou o senhor e depois a mim. Em seguida falou aquela frase com três palavrinhas que ando escutando com tanta frequência: "Estou tão desanimada". Engraçado. Não temos nem trinta anos de idade e estamos reclamando de cansaço, desânimo e insatisfação. Eu, tu, eles, nós... todos reclamando. Que geração é essa? A geração da lamentação. Parece que aquela cruz que nossos avós carregaram tão bem está pesada demais para nós. Provavelmente a Coca-Cola da última geração não tenha sido uma boa fonte de nutrientes.

Mas em meio a esses meus pensamentos aquele senhor começou a falar como se já me conhecesse desde sempre (as palavras não foram exatamente essas): "Sabe, a vida é assim. Eu costumo comparar com pescar. Você vai para o rio, debaixo de um sol quente, com mosquitos te picando e fica ali sentado, ou em pé, por horas. É quando o peixe vem. Você pega, leva para casa. Descama, limpa, tempera e frita. Então só ai você come. Você demora esse tempo todo, para no final, ter só aquele breve momento de felicidade. Mas acredito que é um momento que valeu a pena. Então, a vida é esse sofrimento todo, para receber pequenos momentos de alegria. É assim mesmo, acredite. E assim, não desanima não, nunca desanime, pois ai, nem esses breves momentos você terá".

Minha colega me olhou e sorriu. Foi quando ela disse: "Anamaria, você sabia que ele é estagiário de Arquitetura lá na empresa?" Meu mundo literalmente caiu. E com aquele olhar de espanto que não consegui disfarçar o olhei perguntando se realmente era verdade o que ela me dizia. Ele então me contou brevemente sua história.

Parou de estudar no primeiro ano do ensino médio, lá na década de sessenta. Decidiu casar. Teve cinco filhos e com o trabalho de carpinteiro conseguiu dar estudo a todos eles. Cumpriu sua meta. Mas não queria ficar parado. Fez aqueles cursos para terminar logo o ensino médio e prestou vestibular. Passou. No dia da matrícula escutou da funcionária da faculdade, "O senhor está brincando?". Ele não estava. Hoje está na metade do curso. Mora a 240 quilômetros de Goiânia, Jussara, mas está na casa da filha, aqui na capital, para ficar mais fácil. Acredita que com esse curso, poderá largar a parte pesada do seu trabalho de marceneiro, e evitar as farpas nas mãos. Uma coisa ele discorda do resto do mundo. As pessoas perdem a vida toda trabalhando para no finalzinho aproveitar a aposentadoria. Ele não. Aproveitou a vida do jeito que pôde e agora irá estudar e trabalhar. "Não dou conta de ficar parado não".

Era a hora de despedirmos e cada um seguir para o seu departamento. Ele então terminou: "Te digo uma coisa, duas coisas que eu não carrego comigo é raiva e pressa. Com elas, tudo da errado".

Talvez seja isso. Temos pressa demais e nos irritamos por não conseguirmos o que queremos. Raiva e pressa. Duas coisas que tentarei não carregar mais comigo...

Obs: Agradeço todos os dias por essas pessoas existirem e poderem atravessar o meu caminho deixando um pouquinho de sua sabedoria. Obrigada.



domingo, 16 de junho de 2013

A dona do mundo

Mariana sempre quis o mundo. Não era ser famosa e rica. Isso não. Ela sempre desejou conhecer o mundo. Poder pisar, sentir e respirar a particularidade de cada país do planeta. Viajar sem o menor compromisso, para sempre. Talvez por isso ela tivesse medo da morte. Não queria morrer sem antes aproveitar tudo. Que a morte a esperasse. E quando estivesse pronta, a chamaria e poderia dizer: “Agora sim, posso morrer enfim”.

Mas como todo ser que deseja, Mariana queria mais que tudo o lugar em que,  dolce far niente (arte de não fazer nada)  fosse realmente ARTE. Itália. Ah como ela a desejava.  A desejava como se quer o mais prazeroso orgasmo. Estar na terra do amor e onde se inventou a pizza e o sorvete napolitano, era unir os maiores dos prazeres: comer e amar.


Talvez por querer demais, Mariana nunca amou. Nunca conseguiu namorar mais do que alguns meses. Sempre descobria no fim que não era amor. Às vezes pensava que se esse tal de amor existisse, nunca o encontraria. Deus não da asa a cobra, pensava. “Não daria para amar o mundo e alguém ao mesmo tempo, é querer demais”. Foi o que Mariana colocou na cabeça e assim seguiu.

Viajou. Conheceu desde o gelo do Alasca até a Antártida. Foram anos juntando retratos, quilos e amigos. Por fim, acabou. Teve que acabar. Mariana havia conseguido o passaporte com mais carimbos de todos os tempos. Era a ora de partir. Era a ora de dizer adeus àquele mundo que a amou e ela havia o retribuído por toda a sua vida. A morte veio. Disse à Mariana que ela havia aproveitado ao máximo as suas horas, minutos e segundos. E então a levou.


Mas o que a Morte não sabia, era que Mariana não havia aproveitado tudo. Lá no fundo ela sentia que não havia. Não havia amado em particular. Há anos havia desistido e agora sabia que foi por medo. E graças a ele, não havia aproveitado alguém...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sobre a morte


A morte é uma coisa estranha. Você vive ao lado de alguém, respira junto com esse alguém e de repente, ele não está mais lá. Definitivamente é um plano ruim. Egoísmo? Talvez. Não gosto da forma como tudo acontece. Poderia ser mais bonito, não? Hoje estive em um velório. Ninguém gosta de ir a velórios. Não porque seja chato, mas é o momento em que a vida esfrega na sua cara que "Olha, não sou eterna!". É o momento em que você diz adeus à alguém que foi finito primeiro que você. É o fim. E agora?

Uma vez eu perguntei a uma senhorinha, Dona Milda, se ela tinha medo da morte. Ela me disse o seguinte: "Eu não. Pra morrer basta tá vivo! Não precisa ter medo de fim de mundo nenhum. O fim do mundo sempre chega um dia pra qualquer um de nós, mas no dia que Deus marcar. Não tenho medo de morrer. O meu medo mesmo é de não saber pra que lado eu vou ficar na hora da seleção, se é do lado do trigo ou do lado do joio. (risos)". Outra senhora de 67 anos, Dona Rute, perdeu o seu filho para a morte há 25 anos em um acidente de carro. Ao falar dele, em momento algum, ela demostrou tristeza. Chamou inclusive o seu velório de festa. Questionada pela alegria presente em suas palavras ao falar desse assunto delicado, ela me disse: “Eu tenho alegria dele ter sido resgatado por Deus. Eu nunca tive tristeza da morte dele. Nunca. A palavra em Sabedoria fala né? Que aos olhos dos homens parece insensatez eles perderem a vida tão cedo assim, mas Deus os retira antes de qualquer corrupção na alma deles né? Aí eu acredito assim, que é um privilégio”. Seu filho, Alexandre, tinha 21 anos. 

O que essas duas senhoras possuem em comum? Eu diria que elas possuem fé. Elas realmente acreditam naquilo que não se pode ver. Acreditam que há um lugar bem melhor do que esse e que a vontade de alguém maior a elas deve ser respeitada. Tive várias oportunidades para perceber que a religião proporciona  essa força sobrenatural. E hoje foi uma delas. O caixão já estava dentro da cova. Familiares em volta choravam a perda. Os amigos, mais afastados, olhavam com pesar aquela cena. E no fundo, pediam ao seu deus, um conforto. Foi quando então uma voz distante começou a cantar. Era uma voz cansada,de uma senhora que já havia cantando muito ao longo da vida. Ela começou baixinho, timidamente. Mas depois encorajou-se e confiou naquela bela  e antiga canção católica: 

Me chamaste para caminhar na vida contigo,
Decidi para sempre segui-te, não voltar atrás.
Me puseste uma brasa no peito e uma flecha na alma, é
Difícil agora viver sem lembrar-me de ti.
Te amarei, Senhor (bis), eu só encontro
A paz e a alegria bem perto de ti 
Eu pensei muitas vezes parar e não dar nem resposta.
Eu pensei na fuga esconder-me, ir longe de ti, mas tua
Força venceu e ao final eu fiquei seduzido. é difícil
Agora viver sem lembrar-me de ti.
Ó Jesus, não me deixes jamais caminhar solitário,
Pois conheces a minha fraqueza e o meu coração.
Vem ensina-me a viver a vida na tua presença,
No amor dos irmãos, na alegria, na paz, na união
(Padre Zezinho)


Aos poucos aquela voz foi sendo seguida por outras vozes e, por fim, quase todos estavam cantando. As pessoas começaram a se abraçar. Era a hora. Todos estavam agora realmente juntos e aquela  música havia dado àquelas pessoas a força necessária para o adeus. Era uma manifestação de fé e segundo Santo Agostinho, a recompensa da fé é ver o que acredita. 






segunda-feira, 20 de maio de 2013

Luxúria

Entre a cruz e a espada. Ou eu diria, entre a cruz e o vibrador meu bem? O céu e o inferno podem estar mais próximos do que você imagina. E que tal o inferno? Você tem medo? Medo de se perder entre as chamas e não poder voltar atrás? Pra quê voltar se você estará comigo? Pegue minha mão e siga-me. Posso te dar todo o prazer do mundo. Venha, e os seus problemas parecerão brinquedos de criança. Não ligue para o que vão falar. Seu caminho será trilhado nos prazeres do melhor pecado. Luxúria. Ah a luxúria, não me importaria de me perder nela mil vezes, ainda mais estando com você. Eu te cobrirei com os mais doces beijos e os mais deliciosos carinhos. Você não será mais o mesmo. Todo o seu passado será como o de um aprendiz. Agora o poder está em suas mãos. Use-o. Use-o também em mim. Abuse. Faça de mim o caminho da perdição. Foi para isso que nasci meu bem, para ser a maior das suas tentações e para no final, trazê-lo ao mais extasiante fim. O seu fim.
Let's go to the fire.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Tudo é carne

Obrigada a você que me ajudou a chegar a essas palavras. Inspiração é tudo.

Para os homens há uma linha muito tênue entre uma mulher gostosa bem dotada e um pedaço de filé mignon.  E dentro desses homens há um vantajoso grupo que provavelmente possuem astigmatismo, miopia ou qualquer outro problema de visão, pois eles acabam perdendo o rumo dessa linha e enxergando tudo a mesma. Tudo é carne. Tudo é comida e para, claro, ser comida. Agradeço por nos compararem a um pedaço tão nobre de uma vaca, mas digo que eu preferiria ser o cupim. Seria perfeito ser acompanhada por uma cervejinha... e bom,  ir direto entupir suas veias com gordura e te causar um derrame e até mesmo um infarto. E ai você morreria. E viraria adubo. E assim, ajudaria a nutrir o capim que pararia logo logo na boca de uma vaca. Um belo ciclo, não é mesmo?

domingo, 10 de março de 2013

Vergonha. Apenas.

Não era período de Copa do Mundo ou qualquer outro evento ligado ao futebol que envolvesse a Argentina. Não era período de comemoração alguma. Aliás, o país estava em crise e ainda está. Mas por onde meus olhos passavam, eles sempre viam listras azuis e brancas destacadas por um belo sol amarelo. Órgãos públicos, órgãos particulares, casas simples, casas imponentes, dentro de táxis, na própria rua, nas pessoas. Lá estava ela: a bandeira argentina. Era visível o orgulho que aqueles porteños tinham por seu país. E no momento em que eu pude constatar isso, eu senti apenas duas coisas: Admiração e vergonha. Admiração por ver o patriotismo daquele povo. E vergonha, bom, por ver que o meu povo só se sente brasileiro, em datas comemorativas e principalmente em época de Copa do Mundo. E eu não estou tirando a minha da reta. Eu sou brasileira e não tenho a bandeira do meu país nem ao menos guardada na gaveta. Vergonha. Apenas.


quarta-feira, 6 de março de 2013

Sacrifício




Era um dia de 5ºC na Argentina. Eu e minhas amigas acordamos logo cedo para conhecer os principais pontos da bela Buenos Aires. Cachecol, gorro, luvas. Ok. Fomos andar seguindo apenas um mapa todo rasgado que cansou de ser aberto e fechado por nós. Próximo ao hotel havia uma praça e nela, um monumento dedicado aos soldados argentinos que foram mortos na Guerra das Malvinas em 1982. Era pouco mais de nove horas da manhã. Os guardas já haviam realizado o ritual diário de levantar a bandeira sob o toque das trombetas. Eles foram embora restando apenas um, que ficou em posição para "vigiar" a bandeira. Não sei por quanto tempo seria. Mas o que me chamou a atenção mesmo, foi quando um certo homem apareceu. Trouxe consigo um balde com água, sabão e uma esponja. E com toda a paciência do mundo começou a lavar as placas que possuíam os nomes de todos os soldados caídos. Me emocionei. Era claro que já havia um costume ali. Que aquele homem há não sei quanto tempo dedicava-se àquela atividade. O observei. Era frio demais para brincar com aquela água gélida. Por que aquilo? Ele não precisava. Era uma praça pública e funcionários da prefeitura poderiam cuidar daquele local. Mas não. Ele estava lá com toda a sua paciência. Ele foi um sobrevivente? Ou foi um filho sobrevivente? Não sei. Mas o que sei era que naquele homem havia amor e respeito. Amor por quem já sei foi. E respeito pelo que um dia aqueles soldados foram. Sacrifício. Essa foi a palavra que me veio a mente. Palavra pouco utilizada nesse atual mundo em que tudo para nós é possível e abrir mão de algo é inaceitável. Mas aquele homem estava sacrificando-se. O tempo. O corpo. A mente. Em prol de algo maior. Em prol do amor e do respeito.