“Fé é acreditar no que você não vê; a recompensa da fé é ver
o que você acredita.”
(Santo Agostinho)
Eu poderia começar essa
história com um belo “Era uma vez”, pois ela pode ser dessas histórias que
contamos para os nossos filhos, e eles contarão para os seus filhos, até a
história passar a fazer parte do mundo dos contos de fadas. Mas prefiro não
começar assim. Pois essa história que me foi contada, foi contada por olhos que
viram e podem confirmar a sua veracidade. E não só um par de olhos, mas vários.
Olhos que se emocionaram, e deixaram com que as lágrimas que escorreram por
eles, confirmassem que ali havia fé. Sim, eles acreditaram no que não pode ser
visto e nem comprovado. E assim eu passo essa história. Se não tiver fé no que
vou contar, tenha fé nessas pessoas.
Era véspera de Natal.
Momento, para cristãos do mundo todo, de celebrar o amor ao próximo e retribuir
esse amor presenteando àqueles que aos nossos olhos são dignos de tal
agradecimento. Como em todo ano, a Paróquia Nossa Senhora das Graças
presentearia as crianças que ali frequentam com presentes simples, mas
oferecidos de coração. Porém nesse ano de 2000, algo inusitado aconteceu. Era
para apenas as pessoas do bairro saberem sobre o fato e a informação
espalhou-se além desse limite. É aqui que entra o Magué. Mas para isso
voltaremos um pouquinho na história. Antes do dia da entrega dos presentes.
Magué e Zé Buchinha
eram responsáveis por ir à capital, Goiânia, buscar as bolas, carrinhos e
bonecas. Entretanto, dessa vez se meteram em encrenca. Zé Buchinha, que ia
dirigindo apressado para chegar o quanto antes ao destino, acabou fazendo uma
ultrapassagem proibida. Que azar. A polícia viu tudo. Foram parados, tentaram
explicar que era para um bem maior, porém tudo em vão. Injustificável. Multa na
certa. Chateados e de volta ao trajeto Magué disse:
- Essa multa nunca vai chegar para você, pois estamos fazendo algo para Nossa
Senhora das Graças.
Pimba! A multa até hoje
não chegou. Nunca foi vista. Alguns chamariam isso de sorte, mas para eles não
foi só isso não. Uma mãozinha conduziu tudo isso.
O dia da entrega dos
presentes chegou e o grupo responsável conseguiu encher seis sacos de
presentes. Em particular, Magué decidiu guardar uma bola para si como
recordação. Sozinho, sem ninguém o observando, pegou uma bola, entrou em um
quartinho da paróquia e guardou em um armário na última prateleira. Depois foi
para a missa. Mais uma vez a paróquia poderia fazer a alegria das crianças do
bairro. Mas espere um momento. Como eu disse anteriormente, a informação vazou.
Não havia ali a média de crianças que sempre havia nos anos anteriores. Havia
muito mais. Logo, logo, após a missa, seria o momento de entregar os presentes
que estavam dentro daqueles seis sacos e Magué sabia que muitas crianças iam
ficar sem. Ele logo se entristeceu. Doía no peito ter que ver olhinhos tão
ansiosos terem a sua alegria indo embora.
Ele só poderia fazer
uma coisa. Era falar com Ela. Falar com a sua Mãe Intercessora e pedir que Ela
o ajudasse a lidar com aquela situação e que soubesse agir com as crianças que
não iriam receber os presentes. O momento chegou e lá se formou aquela enorme
fila de crianças sorridentes. Zé Buchinha vendo a preocupação do amigo disse:
- Calma. Vamos começar a entregar para as crianças menores. As que
sobrarem, vamos fazer uma lista com o nome delas e nos comprometer. Voltaremos
a Goiânia amanhã e compraremos mais presentes.
E foi pensando assim
que o grupo responsável por aquela atividade começou a entregar os presentes.
Mas algo estranho aconteceu. Não havia ali os seis sacos de brinquedos. Havia
sete sacos. Todas as crianças ganharam os presentes. Todas. E Magué e Zé
Buchinha que foram os responsáveis pela compra dos brinquedos ficaram
assustados. Como foi aparecer mais um saco? Porém eles sabiam quem foi
responsável por isso. E estavam gratos.
Foi então que depois
que já tinham acabado de entregar todos aqueles presentes e estavam felizes por
terem conseguido fazer a alegria de tantas crianças, que mais uma chegou. Era
um menino pequeno e chegou na garupa de uma gareli velha dirigida por seu pai.
Ele chorava muito e dizia incessantemente: “Pai,
eu quero aquela bola”. O pai não estava entendendo o que acontecia, mas
deixou que seu filho falasse com Magué:
-
Eu quero aquela bola. Uma Moça Bonita me disse para vir aqui e pegar aquela
bola com você. Ela disse que a bola é...
E assim o menino
descreveu as características da bola e disse o local onde ela estava. Sim, era
na prateleira mais alta daquele armário que Magué havia guardado a sua
lembrança e que só ele sabia onde estava. Foi Ela mais uma vez. Após entregar a
bola àquele menino e ver as lágrimas serem substituídas pelo sorriso, Magué
contou o fato ocorrido para os seus amigos que ainda estavam na igreja e todos
muito emocionados agradeceram. Agradeceram àquela Mulher que escolheu ajudá-los
nesse momento de graça. Nunca esqueceram esse fato e até hoje o contam com
lágrimas nos olhos.
Foi o próprio Magué
quem me contou. No final, as lágrimas e o choro disputavam espaço com as suas
palavras. Foi preciso um copo d’água para acalmar aquele coração que anos
depois do ocorrido, possui a mesma sensação daquele dia do menino e da Moça Bonita.
Sensação de dever cumprido e agradecimento. E assim, repasso essa história.
Você tem a escolha de acreditar ou não. Mas acredite nessas pessoas e em seu
direito de acreditarem no inacreditável, pois histórias como essa não nos são
contadas todos os dias.
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