Mariana sempre quis o mundo. Não era ser famosa e rica. Isso
não. Ela sempre desejou conhecer o mundo. Poder pisar, sentir e respirar a particularidade
de cada país do planeta. Viajar sem o menor compromisso, para sempre. Talvez
por isso ela tivesse medo da morte. Não queria morrer sem antes aproveitar
tudo. Que a morte a esperasse. E quando estivesse pronta, a chamaria e poderia
dizer: “Agora sim, posso morrer enfim”.
Mas como todo ser que deseja, Mariana queria mais que tudo o
lugar em que, dolce far niente (arte de não fazer nada) fosse realmente ARTE. Itália.
Ah como ela a desejava. A desejava como
se quer o mais prazeroso orgasmo. Estar na terra do amor e onde se inventou a
pizza e o sorvete napolitano, era unir os maiores dos prazeres: comer e amar.
Talvez por querer demais, Mariana nunca amou. Nunca
conseguiu namorar mais do que alguns meses. Sempre descobria no fim que não era
amor. Às vezes pensava que se esse tal de amor existisse, nunca o encontraria.
Deus não da asa a cobra, pensava. “Não daria para amar o mundo e alguém ao
mesmo tempo, é querer demais”. Foi o que Mariana colocou na cabeça e assim
seguiu.
Viajou. Conheceu desde o gelo do Alasca até a Antártida. Foram
anos juntando retratos, quilos e amigos. Por fim, acabou. Teve que acabar.
Mariana havia conseguido o passaporte com mais carimbos de todos os tempos.
Era a ora de partir. Era a ora de dizer adeus àquele mundo que a amou e ela
havia o retribuído por toda a sua vida. A morte veio. Disse à Mariana que ela
havia aproveitado ao máximo as suas horas, minutos e segundos. E então a levou.
Mas o que a Morte não sabia, era que Mariana não havia
aproveitado tudo. Lá no fundo ela sentia que não havia. Não havia amado em
particular. Há anos havia desistido e agora sabia que foi por medo. E graças a ele, não havia aproveitado alguém...