terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Pecado Capital


Tratando-se de você, nunca acredite no que eu falo. Sempre serão mentiras. Se eu disser "Suma!" eu estou gritando para você ficar em minha vida até o final. Se eu disser que não sinto nem um pouco de ciúmes, saiba que a cada tropeço seu quem cai sou eu. Inclusive eu poderia arrumar dez motivos para te odiar, por exemplo, mas sabe garoto, é só escutar a sua voz para acreditar na impossibilidade desse pecado. Você me pirraça, irrita, mente, grita, finge não se importar, mas depois chora. Pede intermináveis desculpas, me abraça por três dias seguidos, compra chocolate e diz que me ama. Então você me pirraça, irrita, mente, grita e finge não se importar. Sinceramente, pecado mesmo é a gente. Dos Capitais. Aquele que sabemos que é errado, nos levará para o inferno e nos fará queimar na eternidade, mas continuamos praticando até quando der e quiser. Talvez Gula, Luxúria ou até mesmo Vaidade. Quem sabe todos? Mas não me importo.
Querido, amor sem dor não é divertido.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quem diria?


Ainda lembro de quando você me disse que nunca me abandonaria. Seríamos um do outro até o fim de nossas vidas e se a eternidade existisse, estaríamos lá também. Ainda lembro do dia em que você riu da minha mania de sempre dormir no seu colo enquanto você cantava para mim. Ainda lembro daquele banho de chuva que tomamos quando fazíamos trilha no raio que o parta. Ainda lembro dos seus olhos castanho escuro. Ainda lembro da forma como você chamava pelo meu nome. Ainda lembro da primeira vez que nos vimos. Da segunda, da quarta, da quinta e da sexta quando você me disse "Oi". Ainda lembro daquela calça que eu odiava e que você só usava para me implicar. Ainda lembro das suas mensagens que me enviava de madrugada. Eu ainda as tenho. Ainda lembro daquela mensagem ao vivo com o Roberto Carlos cantando de fundo que você me mandou na faculdade no dia do meu aniversário. Fiquei sem falar com você uma semana por causa disso. Ainda lembro de você brincando com os meus sobrinhos como se você também fosse criança. Eles ainda perguntam por você. E eu ainda lembro da última vez que nos falamos. Você me pediu perdão por ter que me abandonar tão cedo. Disse que me encontraria na eternidade, mas eu mandei você calar a boca. A culpa era dele. Toda dele. Eu pedi várias vezes para você parar e que aqueles seus novos amigos eram má companhia. Mas você já havia se rendido. "Se picar" virou o verbo que te guiava. Aí ele te achou. Ele, tão cruel e mortal.
Eu ainda lembro da última vez que você segurou em minha mão. Você apertou o mais forte que pôde e disse "Adeus". Foi quando ele te levou.
Vírus idiota.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Felizes para sempre?


"Então a princesa foi salva pelo príncipe e eles viveram felizes para sempre". Era assim que seu pai terminava de ler as histórias quando a ia colocar para dormir. E Katrina aprendeu a acreditar no que muitas outras meninas ainda acreditam: no "Felizes para sempre". "Ele vai vir mãe" ela dizia, "Isso são apenas contos de fadas" dizia a sábia mãe por tras de uma risada. Mas foi então que olhando para o espelho que ela descobriu: "ele não virá nunca". Katrina usava óculos, o que escondia seus lindos olhos, era gordinha, usava aparelho e seu cabelo tinha vida própria. "É, ele não virá mesmo" repetiu para sí mesma naquela noite e em todas as outras noites de sua adolescência. E como se já não bastasse, certo dia o seu pai não pôde mais estar ao seu lado tentando a fazer mudar de ideia. Ele foi para um lugar bem melhor do que esse mundo meia boca.

O tempo passou. Katrina emagreceu, tirou os óculos e o seu sorriso agora combinava com seus olhos. Quanto ao cabelo? Katrina deu um jeito. Homens e mulheres a enchiam de elogios, flêrtes e cantadas, mas lá no fundo ela ainda era aquela menina feia e sozinha. Há tempos Katrina já dissera Foda-se ao "Felizes para sempre"e agora tentava encontrar alguém para preencher pelo menos aquele vazio em seu peito. Nunca conseguiu. Assim como o verão chega trazendo o calor e chuvas quentes no final da tarde eles chegavam e a fazia feliz. Mas esse verão ia embora e ela ficava ali no meio de uma eterna tempestade que percorria todo o seu outono e congelava no inverno. "As tempestades passam e logo vem a bonança", mas parece que o deus do tempo não ia com a sua cara e a havia excluído dessa regra.

Mas certa tarde, quando assistia a um filme acompanhada do seu melhor companheiro, o chocolate quente, certo comentário da personagem lhe foi jogado na cara assim como aquelas raspadinhas que ela recebia no colégio: " ...quando era criança, eu ia para o campo para ver as joaninhas, esperei por horas e horas, cansei e adormeci, quando acordei estava coberta por elas...".
Adormecer. Assim como Alice.
E ela adormeceu.
Quando acordou, lá estava ele. Ou talvez ele sempre esteve lá, mas ela nunca tinha ligado para as joaninhas.