segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sobre a morte


A morte é uma coisa estranha. Você vive ao lado de alguém, respira junto com esse alguém e de repente, ele não está mais lá. Definitivamente é um plano ruim. Egoísmo? Talvez. Não gosto da forma como tudo acontece. Poderia ser mais bonito, não? Hoje estive em um velório. Ninguém gosta de ir a velórios. Não porque seja chato, mas é o momento em que a vida esfrega na sua cara que "Olha, não sou eterna!". É o momento em que você diz adeus à alguém que foi finito primeiro que você. É o fim. E agora?

Uma vez eu perguntei a uma senhorinha, Dona Milda, se ela tinha medo da morte. Ela me disse o seguinte: "Eu não. Pra morrer basta tá vivo! Não precisa ter medo de fim de mundo nenhum. O fim do mundo sempre chega um dia pra qualquer um de nós, mas no dia que Deus marcar. Não tenho medo de morrer. O meu medo mesmo é de não saber pra que lado eu vou ficar na hora da seleção, se é do lado do trigo ou do lado do joio. (risos)". Outra senhora de 67 anos, Dona Rute, perdeu o seu filho para a morte há 25 anos em um acidente de carro. Ao falar dele, em momento algum, ela demostrou tristeza. Chamou inclusive o seu velório de festa. Questionada pela alegria presente em suas palavras ao falar desse assunto delicado, ela me disse: “Eu tenho alegria dele ter sido resgatado por Deus. Eu nunca tive tristeza da morte dele. Nunca. A palavra em Sabedoria fala né? Que aos olhos dos homens parece insensatez eles perderem a vida tão cedo assim, mas Deus os retira antes de qualquer corrupção na alma deles né? Aí eu acredito assim, que é um privilégio”. Seu filho, Alexandre, tinha 21 anos. 

O que essas duas senhoras possuem em comum? Eu diria que elas possuem fé. Elas realmente acreditam naquilo que não se pode ver. Acreditam que há um lugar bem melhor do que esse e que a vontade de alguém maior a elas deve ser respeitada. Tive várias oportunidades para perceber que a religião proporciona  essa força sobrenatural. E hoje foi uma delas. O caixão já estava dentro da cova. Familiares em volta choravam a perda. Os amigos, mais afastados, olhavam com pesar aquela cena. E no fundo, pediam ao seu deus, um conforto. Foi quando então uma voz distante começou a cantar. Era uma voz cansada,de uma senhora que já havia cantando muito ao longo da vida. Ela começou baixinho, timidamente. Mas depois encorajou-se e confiou naquela bela  e antiga canção católica: 

Me chamaste para caminhar na vida contigo,
Decidi para sempre segui-te, não voltar atrás.
Me puseste uma brasa no peito e uma flecha na alma, é
Difícil agora viver sem lembrar-me de ti.
Te amarei, Senhor (bis), eu só encontro
A paz e a alegria bem perto de ti 
Eu pensei muitas vezes parar e não dar nem resposta.
Eu pensei na fuga esconder-me, ir longe de ti, mas tua
Força venceu e ao final eu fiquei seduzido. é difícil
Agora viver sem lembrar-me de ti.
Ó Jesus, não me deixes jamais caminhar solitário,
Pois conheces a minha fraqueza e o meu coração.
Vem ensina-me a viver a vida na tua presença,
No amor dos irmãos, na alegria, na paz, na união
(Padre Zezinho)


Aos poucos aquela voz foi sendo seguida por outras vozes e, por fim, quase todos estavam cantando. As pessoas começaram a se abraçar. Era a hora. Todos estavam agora realmente juntos e aquela  música havia dado àquelas pessoas a força necessária para o adeus. Era uma manifestação de fé e segundo Santo Agostinho, a recompensa da fé é ver o que acredita. 






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