sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Emily


 Para mim, eram pequenos pés descalços e sujos pela terra batida e que há tempos não eram lavados. Para ela, estava usando sapatos de cristal e que por onde passassem sempre haveria um tapete vermelho os esperando. Para mim, ela usava roupas gastas e que o tempo e o constante uso transformaram-nas em trapos. Para ela, o vestido mais belo de toda a corte. Para mim, era apenas um barraco erguido por restos de tábuas e coberto por lona. Para ela, seu castelo.
O sol do meio dia esquentava com todas as suas forças aquele barraco, fazendo-o parecer o lugar mais quente para se estar. Mas para Emily, aquele sol era a estrela mais bela e bonita que já tinha visto e ela estava lá. Sentada no chão ao lado de suas havaianas gastas ela me olhava. Provavelmente pensando o porquê da minha visita inesperada ao seu reino. Essa estranha seria de confiança? Que roupas são essas que ela está usando? Por que ela tanto me olha? E afinal, por que ela está aqui? E Emily mantinha seus pequenos olhos fixos em mim.
Já se passaram alguns dias que eu a vi, e aqueles olhos ainda não saíram dos meus pensamentos. A curiosidade estampada no rosto daquela criança de quatro anos ainda estava em minha mente. Eram dois mundos completamente distintos que haviam se encontrado e perguntas foram levantadas. Mas não houve tempo. Eu não pude saber qual a brincadeira preferida de Emily. Nem mesmo seu sobrenome.  Eu apareci como uma forasteira que chega a terras desconhecidas apenas para tirar o que fosse de interesse próprio daquele lugar e assim, ir embora. Às vezes penso que Emily sabia disso. Sabia que nunca mais me veria de novo. E talvez seja por isso que aqueles olhos me olhavam tão fixamente. E havia um rosto, um rosto sem sorriso algum.


Nenhum comentário:

Postar um comentário