sexta-feira, 11 de março de 2011

15 minutos de desejo


São em horas como essa que eu agradeço por ser homem. Ela entra na confeitaria. Para de frente às inúmeras guloseimas e analisa. Poe o dedo indicador sobre os lábios pensativa. Se inclina para frente para ver melhor o que está em baixo. Sua saia jeans ameaça subir. Ela escolhe. Engraçado, logo o bolo de chocolate. Logo ele, tão comum.Pede uma xícara de chocolate quente. De novo. Ela sempre pede as mesmas coisas todos os sábados. Senta de frente para mim. Não sei se consigo disfarçar. Abro o jornal no caderno de Política, mas só para enganar. O meu foco é ela. Então começa o ritual.

Suas mãos envolvem a xícara quente. Ela a aproxima de seu nariz, fecha os olhos e sente o cheiro do chocolate. É como se estivesse lembrando de algum momento feliz e acolhedor, talvez na infância. A xícara se move para sua boca. Seus lábios a toca. Novamente fecha os olhos. A marca do batom vermelho ficou na xícara. Chocolate ficou no canto superior de sua boca. Ela não limpa com o guardanapo. Ela passa a língua lentamente e me olha. Pela primeira vez ela me olha. Me escondo por de trás do jornal na esperança de que tenha sido apenas um olhar de passagem.

Espero um minuto. Então volto a encará-la. Ela havia cruzado as pernas. Uma pena que eu tenha perdido isso. Agora mordia o bolo. Parecia tão macio e suculento. Farelos caiam dentro de seu decote, mas ela não ligava. Parecia distraída. Cansada na verdade. Seus olhos estavam tristes. Olhos de ressaca. Quando dei por mim, ela já havia acabado. Se levantou. Ajeitou a saia que havia subido um pouco mostrando suas grossas pernas mais do que devia. Colocou a bolsa no ombro e me olhou novamente. Agora andava na minha direção. Que pernas! Que quadril! Que boca! A olhei como todo homem deve olhar uma mulher como ela. A apreciei. Ela parou em minha frente e me fitou.

- Aqui está meu cartão. Decidi que você merece um pouco mais do que 15 minutos comigo. Dessa vez, de verdade. Gostei de você. Mas hoje, meu expediente já acabou. me ligue mais tarde, a noite, e acertamos.

Ela me fitou novamente e sorriu. Se virou e foi embora. Era bom vê-la todos os dias de manha após toda a sua noite de trabalho. Mas agora eu não sabia o que fazer. Fiquei nervoso. Será que eu deveria ligar?

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